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Uma publicação da tecepe. Ano I número 7.


A sua página de informações sobre a Internet. Nesta edição de 3x4, você encontra:

Pesos pesados da encripção contra planos de Clinton

Um grupo de respeitados especialistas na tecnologia de encripção publicou um relatório criticando a proposta do governo americano de controlar todo o sistema de segurança da Internet. A idéia do governo era manter banco(s) de dados com as chaves de encripção de todos os cidadãos e empresas, para que autoridades pudessem - mediante ordem judicial - "grampear" comunicações encriptadas.

O chamado sistema de "key escrow" (ou KE) difere fundamentalmente do atual sistema de "Certificate Authorities" (ou CA), na questão no manuseio das chaves: neste último sistema, apenas o usuário conhece a sua própria chave privada. A CA apenas certifica a autenticidade de cada chave pública, mais ou menos como um cartório. Nos sistemas de KE, a autoridade depositária mantém as chaves secretas das pessoas e empresas em bancos de dados sigilosos, disponíveis apenas para as autoridades policiais.

Segundo o relatório do grupo, a instalação de tal sistema significaria maiores custos para as transações on line. Mais importante, existiriam riscos associados ao abuso de autoridade e falhas na segurança destes bancos de dados. Para o grupo, tal sistema está, na prática, além das possibilidades da tecnologia atual de encripção e comunicação.

Como o sistema proposto por Clinton tem carater internacional, existiria também a possibilidade de colaboração ilegal entre autoridades de KE e empresas, em detrimento de empresas de outros países, prejudicando a competição nos mercados internacionais. Tal perigo por sí só põe em risco a soberania de muitos países tecnologicamente menos desenvolvidos. Como não existem organismos policiais internacionais, seria difícil controlar tais abusos.

(ofr 30/5/97)

Números primos

Eu me lembro de ficar imaginando por que tinha que aprender os números primos. O tipo da coisa que nos ensinam sem explicar qual a utilidade. E de fato esse conhecimento foi meramente acadêmico. Até recentemente.

Matemáticos descolados, como Fermat e Euclides, se interessaram pela beleza destes números. Duas perguntas interessaram a eles: quais são (i.e. um número n é primo?) e se n não primo, quais os seus fatores?

Um número primo é aquele que só é divisível ( divisão exata ) por sí mesmo e por um. Alguma coisa como [1, 2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 29, 31, 37..]. Uma série infinita de números.

Como saber se um número é primo? O caminho mais óbvio é o da tentativa e erro. Dividir pelos números primos até achar um fator. Onde parar? Quando o fator tentado chegar na raiz quadrada de n. Acima deste número com certeza não tem nenhum fator. Agora imagine um número 200 dígitos, impar e não divisível por nenhum dos primos mais manjados. Saber se ele é primo exigiria até 5 . 10 ^ 99, (5 seguido de 99 zeros) divisões. Mas os matemáticos descobriram outros métodos mais econômicos e hoje é possível determinar se um número grande é ou não primo .

E se um número não é primo, quais os seus fatores? Esse problema é mais complexo. Determinar quais os dois números primos de cem dígitos que, multiplicados, produziram um terceiro número de duzentos digitos é uma tarefa considerada por muitos como impossível com os recursos tecnológicos atuais.

Afinal, qual a utilidade dos números primos? Eles são usados na codificação de mensagens. São a base do sistema de chave pública- chave privada. A matemática envolvida é um pouco complexa. A multiplicação do parágrafo anterior é uma funcão altamente irreversível. Uma vez multiplicados os primos e produzido o número de duzentos dígitos, voltar atrás e descobrir os dois números é quase impossível. Os dois primos são usados para gerar um par de chaves de encripção. Depois, usando um algorítmo especial, o que uma chave codifica só a outra pode decodificar.

Descobrir a chave privada a partir da chave pública, e/ou de mensagens codificadas por ela, é uma tarefa que requer um tempo enorme (zilhões de anos), mesmo usando os computadores mais modernos. Mas o que dizer dos computadores de vinte anos no futuro? E o que dizer de vários computadores trabalhando em paralelo? Estas são as questões que batucam as cucas os gurus desta tecnologia.

Nesta área, fazer previsões é perigoso. Ron Rivest (o R da RSA), um dos mais respeitados criptologistas, previu em 1977 que números com mais de 128 digitos jamais seriam fatorados. Mas em 94 foi fatorado um de 129! De qualquer forma, números com mais de 150 dígitos parecem seguros por muitos anos.

Em cima deste problema (a fatoração de números) está sendo depositado o futuro do comércio via Internet. Existem dúvidas se tal método é realmente a prova de ataques, embora até agora não tenha sido descoberto nenhum mecanismo viável para quebra destas chaves. E prá você - o único - que leu até aqui, fica um exercício: Quais os fatores do número 357.665.756.745.656.456.456.652.345.567.768.689.898.086.864.345.762.431.
284.500.897.465.236.763.488.589.589.483.845.858.483.858.584.838.585.848.
384.585.986.954.969.459.790.585.476.363.453.421.461.237 ?

(ofr 18/5/97)

Senhores X, Y e Z (ofr 18/5/97)

Em mais um furo de reportagem, a Tecepe apresenta o conteúdo de uma fita inédita, com importantes revelações sobre o caso da compra de votos para a aprovação da reeleição. Segue a transcrição de alguns fragmentos do diálogo gravado nesta fita, a qual já está seguindo para uma perícia na Unicamp.

Os nomes de alguns dos interlocutores da fita foram propositalmente codificados, para proteger as identidades:

[....]
Senhor Y: Muda de canal, bota na GNT. Vamos ver alguma notícia.

Senhor Z: É. Este futebol tá muito devagar.

Segue-se o som do canal da TV mudando, com o ruído dos diferentes canais. Bzz... . .. Bzzz.

Lilian Wite Fibe: ...Mas deputado Osmir Lima: sem querer ser indiscreta, como está sua situação financeira? Pergunto isso porque na fita, o [suposto] deputado Ronivon diz que pagou todas as suas dívidas com o dinheiro da venda do voto.

Dep. Osmir Lima: Foi bom você perguntar! Estou devendo dinheiro no Banco do Estado. Quarenta mil e alguns reais. Minha situação financeira não é lá tão boa!

Senhor Y: Sei. Deve ter feito alguma outra aplicação.

Senhor Y: Esse cara só pode tar brincando. O que ele quer dizer? Que é inocente porque tá devendo dinheiro? Alguém viu minha cerveja?

Senhor Z: Cara. Esses caras não fazem nada de útil. É um meta-poder: existe para investigar os próprios escândalos. Quenêm um médico que só trata a sí mesmo. Cadê o Fugimori? - Põe de novo no futiba. Vamos ver o Ronaldinho.

Senhor Y: O nosso Fujimori já tá lá. Como diria o Ibraim: os cães ladram e a caravana passa. Governa movido a MPs. Aumenta um pouquinho.

Dep. José Genoino: ... A Camara precisa passar este caso pelo crivo de uma CPI, para esclarecer, tornar transparente o processo e punir os responsáveis. Até para redimir sua imagem....

Senhor Z: ..Ahh.. isso vai ser fácil !

Dep. José Genoino:.. Mas tem também a questão dos corruptores... O governador Amazonino e até o Ministro de Estado são citados na fita. Precisam dar explicações. Existe também o assunto do envolvimento da Suframa...

Senhor J: Aí ele tá chegando perto... Essa suframa ...

Senhor Z: Rá. Quero ver os caras intimando o Serjão...

Dep. José Genoino: ...note que o PFL expulsou sumariamente seus dois deputados...antes do resultado da perícia..

Senhor J: Boa pergunta! Deviam fazer uma CPI para descobrir por que os caras de pefelê, que normalmente são a um por hora, expulsaram os colegas tão rápido. Será que eles sabiam alguma coisa que não revelaram? Se for assim, vão ter que expulsar todo o PFL!

Senhor Y: ..Claro que os caras estão sabendo de tudo. Como diz o Ronivon, na Câmara não tem santo..

Senhor Z: Acabar esse caso dos votos é fácil: basta descobrir um novo caso para entreter os jornalistas daqui uns dez dias. Alguém ainda se lembra dos precatórios? Onde anda o Maluf?

........................

Vamos ajustar as tarifas telefônicas (ofr 9/5/97)

Foi difícil, mas o governo acabou conseguindo vender a Vale do Rio Doce. Agora se prepara para vender ativos mais estratégicos: o sistema de telefonia. Mas antes de mais nada, deve ajustar a legislação. De acordo com o colunista Luis Nassif, na Folha de São Paulo, as estatais da telefonia tem suas atividades limitadas e dificultadas por uma complexa legislação, o que inviabiliza a sua operação na velocidade requerida neste dinâmico setor. Se parte do sistema vai ser privatizada, é preciso que as estatais tenham condições de competir.

Mas não é só isso. As estatais de telefonia desenvolveram ao longo dos anos um sistema de tarifação sui generis, que não condiz com a realidade de seus custos. Veja este exemplo: nosso impulso telefônico, unidade de utilização do telefone, é de 3 minutos em ligações dentro do mesmo município, mas de apenas 18 segundos em ligações entre diferentes municípos da mesma região metropolitana. Isso representa uma tarifa 10 vezes maior para o mesmo tempo de ligação.

O valor do impulso impacta principalmente os usuários da Internet, que ficam conectados por um longo tempo. Um usuário me reportou ter gasto R$400 em um mês, só de impulsos telefônicos. Ele mora em um município da grande São Paulo que não tem provedor próprio. Me disse que se morasse 400 metros da sua casa, teria pago apenas R$40 pelo mesmo tempo de acesso. Algo esta claramente errado aqui. O custo da telefonia é proporcional à distância da ligação e não ao número de divisas municipais atravessadas.

Quem usa telefones públicos para fazer ligações entre municípios próximos sabe do que eu estou falando: as fichas caem tão rápido que as vezes é difícil manter o aparelho abastecido. É preciso ajustar o sistema de tarifas, eliminando essa e outras distorções. Esta, particularmente, afeta a população mais pobre, que mora em grande parte nos municípios periféricos das grandes cidades.

É claro que, para cada real reduzido nas tarifas intermunicipais, um real vai ter que ser acrescentado em alguma outra tarifa para manter a lucratividade do sistema. O problema é que todas as nossas tarifas já são altas em relação aos padrões mundiais. Com os mesmos R$400, o usuário da Internet poderia alugar 4 linhas ISDN na Califórnia, ligadas à Internet 24 horas por dia a uma velocidade total de 512 kbps. Só resta então tentar a redução dos custos das telefônicas. Mas isto é tarefa para os nossos deputados (reforma administrativa). E aí a coisa pega...

Bill Gates e Java (ofr 14/4/97)

Sabe aquela da Microsoft?

A Microsoft resolveu construir carros. Anunciado o novo lançamento, um consumidor fanático, fã dos produtos Microsoft, foi na concessionária e comprou um logo no primeiro dia. "Muito bom o carro!" pensou. Cheio de botões e com uma interface fenomenal. Alguns bugs, mas um bom desempenho. Parou então no posto para abastecer, quando percebeu que o buraco da gasolina era incompatível com a mangueira do posto. Procurou na documentação. Vários livros de 200 páginas cada... Até que achou a explicação para o problema: "Runs only on Microsoft gasoline".

A piada, encontrada em um site da Internet, ilustra o que alguns pensam do "monopolismo" da MS. Mas nem sempre é assim. No dia 3 de abril, o próprio Bill Gates compareceu à conferência "Java One", onde afirmou que a MS está realmente empenhada em promover o desenvolvimento de ferramentas para a tecnologia Java. Para alguns analistas, seu discurso marca uma mudança estratégica da Microsoft, que passaria a dar maior suporte a Java, em detrimento da sua própria tecnologia ActiveX. Segundo esses mesmos analistas, a MS estaria reconhecendo algumas das vantagens da tecnologia Java sobre a sua própria, mais especificamente a operatividade em multiplas plataformas e a maior segurança da máquina virtual Java.

É esperar para ver.

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Artigo da C|Net

A imagem e as mil palavras (ofr 7/4/97)

Todo mundo viu as imagens da violência policial em Diadema. Não há como não se indignar com toda aquela crueldade. Mas é preciso que exista uma imagem com som e tudo para que esta indignação se manifeste. Frequentemente os jornais trazem relatos deste tipo de ocorrência. Mas nossas mentes criam uma série de filtros que nos permitem ficar indiferentes à violência. Na maioria dos casos, parecem acontecimentos distantes, como guerras em países desconhecidos. Porém não é possível ignorar imagens como estas, com ameaças e gemidos de dor em bom portugues.

Se a violência é inquietante, também são as manifestações de algumas pessoas ilustres. O presidente Sarney, na Folha, preocupou-se com a imagem do Brasil. Preocupação inútil: esta imagem é um zero à esquerda. Ninguém sabe do Brasil, exceto quando a CNN bota suas mãos em um vídeo como este. Tal preocupação com a imagem externa é prejudicial pois cria um Brasil "prá inglês ver". Para um dos dirigentes da Associação de Sargentos e Sub-tenentes da PM, o vídeo não passa de uma armação dos traficantes, querendo denegrir a imagem da polícia. Mas se o vídeo tivesse sido filmado pelo próprio Satanás, nem assim a culpa dos policiais seria menor. Para um outro dirigente da mesma instituição, o soldado atirou, mas não para matar. Teria tido azar. Do contrário, teria atirado na cabeça do pobre quando o teve nas mãos. Esta teoria não merece nem comentário. Ilustra de qualquer maneira, o respeito da polícia pelo cidadão comum.

Dirigentes da PM tentaram engavetar o vídeo. Mas foi inútil. As imagens eram "boas" demais do ponto de vista jornalístico. Foram parar no Jornal Nacional. Agora a rede Globo aparece como o principal agente da justiça no Brasil. O governador do Rio determinou que a corregedoria da sua polícia assistisse o vídeo que a Globo mostrou sobre a violência da PM no Rio. Parece até que a violência só se materializa após ser exibida no horário nobre. Com estas imagens, a Globo inaugura uma nova fase do Jornal Nacional. Esta instituição nacional, que deu uma força na eleição de Collor, agora se voltou contra sua criatura, mostrando-o em seu desequilíbrio patético. Preocupada com a tendência de queda no Ibope do JN, a Globo está muito mais empenhada nos furos jornalísticos.

Também na TV aparece o senador Requião. A maior descoberta da sua CPI até agora foi a de que o mercado usa a palavra "roubo" para descrever os lucros em operações de day-trade com títulos. O senador usa esta palavra a torta e a direita. Mostrou que é cabra macho, interrogando dirigentes de bancos e fundos de pensão. Joga para a torcida, mas não tem nada de concreto contra ninguém.

Invejando o sucesso do Movimento dos Sem Terra, os congressistas tentaram ser "sem teto". Negociaram a aprovação do teto salarial de R$10800 para o funcionalismo, mas só para os outros. Para eles mesmos, o teto não valeria. Pelo menos esta era a proposta de FHC. A mamata só não saiu pois aqueles que tinham salários e aposentadorias superiores ao teto acabariam votando contra a reforma de qualquer forma. Realmente, nada como o desprendimento e o bom exemplo que vêm de cima.

Este é mesmo o país da televisão. Somente a ação passiva da imagem pode atingir as nossas mentes. As palavras entram por um lado e saem pelo outro, intocadas. Talvez haja justiça quando tivermos uma câmara em cada esquina. Até o "roubo" do senador Requião não é uma palavra. É uma imagem.

Incentivo à verdade (ofr 25/3/97)

O Prêmio Nobel de Economia no ano passado foi entregue a dois economistas que estudaram formas de tornar os leilões economicamente mais eficientes. A solução proposta pelos dois foi estruturar os leilões de modo a incentivar que os participantes declarem suas verdadeiras intensões (i.e. quanto eles efetivamente estão dispostos a pagar). Só deste modo, os valores alcançados em um leilão seriam economicamente justos.

Mas não é só na economia que as declarações verdadeiras devem ser incentivadas. Muitos países perceberam que a Justiça não funciona enquanto as pessoas não forem incentivadas, ou obrigadas, a falarem a verdade. Pode parecer estranho, mas a verdade parece não ser especialmente importante para a nosso sistema jurídico.

Na CPI dos títulos públicos, vários dos depoentes já entraram em contradição com os próprios depoimentos. Melhor mentir, deve ser o raciocínio, a dizer uma verdade comprometedora. A maneira da Justiça conseguir obter a verdade em depoimentos é punir a mentira com penas pesadas. Até mais pesadas do que os crimes que se deseja esclarecer.

A mentira pode ter várias formas:

  1. Depoimento falso ou perjúrio - É o que muitos estão fazendo na CPI. Cabe aqui uma severa punição, pois além da mentira, existe também o desrespeito ao Senado. Na maioria dos Sistemas Jurídicos a punição para este crime é a prisão.
  2. Sonegação Fiscal - Também uma forma de declaração falsa, é frequentemente a única prova concreta de operações criminosas e corrupção. Por isso é tão importante ter instrumentos para punir a sonegação fiscal. Através do enriquecimento ilícito, é possível pegar criminosos sem a necessidade da apresentação de provas de outros crimes, normalmente difíceis de produzir. Al Capone, por exemplo, foi preso por sonegação.
    No Brasil, o pagamento do débito com uma pequena multa estingüe o crime fiscal. A Receita, por mais que fiscalize, não conseguirá detectar senão uma pequena parcela dos sonegadores. Mas quando o faz, deve ter instrumentos para aplicar severas penas de reclusão. Só desta maneira é possível assustar a maioria dos sonegadores, reduzindo o nível de sonegação.
  3. Destruição ou sonegação de provas - Nos Estados Unidos, trata-se de uma grave crime federal. A idéia do legislador americano foi tornar mais interessante a entrega de uma prova a justiça do que a sua destruição. Em Alagoas, por exemplo, um arquivo com documentos pegou fogo misteriosamente. Sem a punição grave da conspiração para destruição de provas, não há prova que resista ao ataque dos criminosos.
Finalmente, a Justiça deve ter flexibilidade para negociar com culpados a redução da pena nos casos em que há colaboração. Uma justiça que não negocia nunca vai conseguir chegar aos peixes graúdos através dos pequenos. Proteger um chefe sempre é interessante, pois este chefe pode usar o seu poder para ajudar o réu. Subordinados só entregam seus mandantes se estiverem sujeitos a pena de prisão e exista a possibilidade de redução da pena através da colaboração. Devem haver limites ao uso da auto-incriminação. Confissões geralmente são obtidas mediante tortura. Condenações com base em confissões não são boa técnica jurídica.

Como diria um amigo meu do Maranhão: "é mais fácil pegar um mentiroso na carreira do que um um coxo na ladeira". O que é preciso é ter instrumentos para punir o mentiroso e obter a verdade.

Bug do MS Internet Explorer (ofr 6/3/97)

Tres estudantes do Worcester Polytechnic Institute, durante um trabalho acadêmico, descobriram uma falha no Internet Explorer da Microsoft que pode comprometer a segurança do usuário. O "bug" afeta as versões 2.x e 3.0 do Explorer, nas plataformas Windows 95 ou Windows NT 4.0.

O Explorer tem uma interação mais íntima com o sistema operacional do que o Netscape Navigator. A idéia dos programadores da MS foi integrar o Explorer com novos recursos de interface do Windows 95. Um destes recursos são os atalhos, pequenos arquivos que executam programas em um determinado contexto (i.e. diretório de trabalho, parâmetros etc).

Ao carregar via Internet um destes arquivos via Internet (atalhos tem extensões .LNK ou .URL), o Explorer automaticamente executa o programa associado, como acontece quando o usuário dá dois clicks em um atalho em seu computador. O problema é que, nas versões com bug, isto acontece sem nenhum aviso ao usuário.

Um webmaster mal intencionado poderia colocar um link em seu servidor que, quando clicado, carregaria e executaria um atalho para programas do próprio sistema operacional como DELTREE, FORMAT, DELETE e outros comandos potencialmente destrutivos. No site que inicialmente reportou o erro existem exemplos de links que disparam a calculadora do Windows, criam e destroem um diretório (curiosamente chamado c:\hahaha) e alteram o registry do Windows. Embora estes exemplos sejam benignos, eles ilustram como é fácil criar links com efeitos desagradáveis.

Em entrevista à CNN os estudantes declararam ter tido dificuldades em conseguir atenção do suporte técnico da Microsoft. Mas, uma vez constatado o problema, a MS trabalhou rapidamente corrigindo o problema em poucos dias. A correção requer o download de um patch. Na versão corrigida o usuário é alertado toda vez que um programa estiver para ser executado.

Um atalho que execute a linha abaixo destruiria o diretório Windows do usuário (não tente este comando em seu computador e muito menos no seu site), causando um enorme transtorno:
C:\windows\command\start.exe deltree.exe /y c:\windows
Por isso, se você usa o Explorer, é altamente recomendado o download e instalação do patch fornecido pela Microsoft. Segundo os estudantes que descobriram o problema, o patch corrige o bug.

O pessoal da Netscape, naturalmente, aproveitou a oportunidade para criticar a Microsoft. Eric Greenberg, um especialista em segurança da NS comentou: "A Microsoft é novata na Internet e está encontrando alguns problemas tentando nos alcançar".

Para os analistas, esta é mais uma consequência da corrida entre a Microsoft e a Netscape pelo domínio do software para a Internet. Os ciclos de programação e testes de programas, que anteriormente duravam em torno de dois anos, agora estão acontecendo a cada seis meses. Como diria o caboclo, a pressa é inimiga da perfeição. E mesmo uma empresa líder como a MS não está imune a erros.

Veja também:

ActiveX

O curioso é que este bug nada tem a ver com a tecnologia ActiveX, apontada por muitos especialistas como uma potencial fonte problemas de segurança. ActiveX são DLLs que são carregadas pelo browser via Internet e executadas no micro do usuário. Ao contrário de programas em Java, os ActiveX tem direitos plenos de acesso ao micro do usuário, podendo escrever e apagar arquivos; ou transmitir dados do disco local para qualquer outro computador na Internet. O único mecanismo que segurança dos ActiveX é uma assinatura eletrônica que identifica o seu autor. Resta às vítimas de um ActiveX maligno o consolo de poder processar o responsável pelos danos.

É discutível se este tipo de segurança é suficiente, particularmente para micros conectados em grandes redes locais de empresas, onde os problemas de infestação de virus são muito mais dispendiosos. Um programador mal intencionado poderia usar um ActiveX para instalar um vírus que só se manifestaria após vários meses. Seria então difícil rastrear qual ActiveX foi responsável pela contaminação.

Programas em Java, embora guardem uma semelhança com os ActiveX no que diz respeito a serem também um conteúdo executável, tem um sistema de segurança muito mais restritivo, não permitindo acesso ao disco local ou a computadores na Internet, que não o servidor que forneceu o applet. Para mais detalhes sobre o sistema de segurança de Java leia este artigo.

Desemprego e produtividade (ofr 6/3/97)

O comunismo não cumpriu a tarefa de produzir bens de consumo de qualidade e em quantidades suficientes para abastecer a população. Este fato foi em parte responsável pela falência deste sistema na maioria dos paises que o adotaram. Os problemas na Albania, talvez o comunismo mais ortodoxo de todos, ilustram bem este fenômeno. Mas será que o capitalismo conseguirá reduzir a diferença econômica entre ricos e pobres? Não é o que parece.

Os ditos populares "dinheiro atrai dinheiro" e "pobre não tem tempo de ganhar dinheiro" ilustram bem o fato de que o capital tende a se acumular nas mãos dos capitalistas. Mas não é só isso. Estudos recentes apontam que as tecnologias avançadas também tem uma tendência concentradora da renda. Esta tendência tem sido notada nos países industrializados, onde os empregos menos especializados tem sido remunerados com salários decrescentes enquanto que os especialistas tem tido rendas cada vez maiores.

Uma das causas deste fenômeno é a alta produtividade dos especialistas. Enquanto que uma boa datilógrafa é uns 30% mais produtiva que uma datilógrafa média, um bom programador pode produzir até 500% a mais que um programador médio. Esta tendencia aparece em muitas profissões. Quanto mais especializada e com mais tecnologia de ponta for a profissão, maiores são as diferenças de produtividade. E esta produtividade reflete em salários melhores para profissionais mais capacitados.

Como a instrução necessária para operar com as tecnologias avançadas é cada vez maior e mais cara, a educação está se tornando cada vez mais um fator concentrador da renda. A alta produtividade, associada ao menor número de empregos, duas consequências da automação, conspiram contra as camadas menos preparadas da população.

Para os trabalhadores, as saídas deste impasse estão na educação continuada e na re-educação para as novas tecnologias. A mão de obra barata está cada vez mais barata, e pode terminar não valendo nada.

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