![]() Da Lata![]() Temerosos de serem presos, os tripulantes jogaram toda a carga no mar a umas 100 milhas da costa e penetraram sorrateiramente no porto do Rio de Janeiro durante a noite, onde abandonaram o navio. O único que sobrou foi o cozinheiro, que foi prontamente detido pelas autoridades. Durante várias semanas, latas do material foram lançadas contra as praias brasileiras no litoral entre Espírito Santo a Santa Catarina.
![]() Mais ou menos nesta época por coincidência, fomos fazer um passeio de veleiro do Saco da Ribeira em Ubatuba até a ilha das Couves, a umas 25 milhas de distância do Saco. Era um destes passeios de fim de semana. A ilha das Couves é lindíssima e fica nas proximidades da praia de Picinguaba, um dos mais belos pontos do litoral paulista. É uma ilha desabitada. Tem uma pequena e calma praia, bem abrigada do mar de leste. É também um local propício para o mergulho. O único inconveniente são os borrachudos, que gostam de atacar de manhãzinha e ao entardecer. No barco cinco pessoas. No meio do percurso, sol escaldante, estávamos quatro dando um "bodinho" dentro da cabine barco e somente o timoneiro estava fora. De repente, ele entrou no barco voando de peixinho, gritando como um desesperado: "uma lata..eu ví uma lata...". Parecia alguém que saindo do deserto, encontrara uma limonada. Fomos todos ver também. Mas o mar picado dificultava a localização do pequeno objeto. Não mais a vimos. Alguns acharam que se tratava de uma miragem. Mais alguns minutos e outra lata apareceu. Aproximamos o barco na vela e eu me estiquei para retirá-la da água. Na primeira tentativa nada feito. Cambamos o barco e rumamos para a lata novamente. Desta vez eu peguei. Há algumas semanas boiando no mar, a lata estava cheia de moluscos grudados. Era como uma destas latas grandes de Nescau, mas sem rótulo. Chegamos então à Ilha das Couves e jogamos ferro na prainha, em um local com uns 6 metros de profundidade. O final de tarde foi belíssimo. Da ilha das couves se vê o por do sol nas escarpas da serra do mar, a 40 milhas de distância. Durante a noite ventou um sudoeste fortinho, que tornou o sono meio balançado. De manhã acordamos, tomamos um belo café, levantamos o ferro e fomos dar uma voltinha, com ajuda do motorzinho. O vento sudoeste que ventara durante toda a noite tinha jogado tudo que flutuava na baia de Ubatuba contra a Ilha: galhos de árvores, cascas de coco, garrafas plásticas e... mais duas latas. Recolhemo-las prontamente e colocamos no estoque. Não sabíamos exatamente como proceder com as latas. E se um barco da marinha nos interceptasse? Com 4 kg de maconha a bordo provavelmente seríamos presos como traficantes. É claro que se isso acontecesse, diriámos que estávamos levando o incidioso material para entrega às autoridades. Mas felizmente ninguém apareceu. Como diz o barão vermelho, "apertamos, mas não acendemos agora". A fumaça de tal objeto provavelmente traria o corpo de bombeiros. As latas, é claro, foram prontamente encaminhadas às autoridades competentes... ;-) Ficamos mais tarde sabendo
de muitas histórias engraçadas relacionadas a essas latas:
Uma destas coisas engraçadas que não acontecem todos os dias. Jô Soares escreveu em uma crônica na Veja que 87 não seria lembrado por nenhum acontecimento político, econômico ou esportivo: seria lembrado como o ano das Latas.
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