EVEREST


 Estou escrevendo de uma vila no meio do caminho para a BASE CAMPING EVEREST, de onde partem as expedições para escalar a montanha mais alta do mundo. Mas antes vou voltar no tempo para contar como cheguei aqui.

 KATHMANDU 28 AGOSTO

Finalmente cheguei ao Nepal. Há muitos anos que sonho em estar aqui e como num sonho hoje eu cheguei e descobri que vale a pena sonhar.

 KATHMANDU e uma cidade toltalmente diferente de todas as cidades que pude conhecer. É a capital do Nepal e aqui pude sentir e ver coisas incríveis. O centro velho da cidade é medieval. Muitas construções são antigas e a maior parte do transito é de pedestres. Poucos carros se aventuram a atravessar esta parte da cidade.

 Parece que voce voltou no tempo: casas medievais, pessoas com roupas medievais vivendo a mesma vida que 200 anos atrás, e isto junto com alta tecnologia. Tudo e muito diferente e mágico ao mesmo tempo, ate parece que você esta num filme.

É uma grande confusão de gente de vários tipos de etnia, religião, classe social, cachorro, bode, vaca, taxibike, taximoto, taxi, templos. E gente. Muita gente andando por todos os lados, ruas estreitas, escuras, casas antigas caindo aos pedacos, muita musica diferente, cheiros de canela,

incensso, mal cheiro ... Mandalas, lojinha de vegetais, loja de antiguidades, equipamento para escaladas, loja de carne, pimenta, bujigangas.... e muito mais. Tudo isto junto por toda a cidade. Voce tem que estar aqui para sentir esta energia que faz deste lugar um grande centro religioso. Tem mais templos que casas, me disse um morador local. E me disse tambem que a magica do mundo, que a muito foi esquecida pelos ocidentais, esta bem viva aqui e voce pode sentí-la no ar.

Eles acreditam que, com sua mágica, podem parar o espírito da terra. Fui visitar uma STUPA no alto de um morro aqui perto. Muito interessante o lugar: mistico, religioso e cheio de energia. Deu para sentir a forca do lugar.

 A STUPA é uma espécie de templo BUDISTA. Ela é uma semi-esfera e sobre ela está um cubo com as faces voltada para os pontos cardeais. Em cada face os OLHOS DE BUDA, que tudo veem. Debaixo desta esfera está enterrado algo muito sagrado para os budistas, tipo escrituras sagradas ou o corpo de um Lama.

 Sobre o cubo estão 12 esferas chatas que representam as dimensões para se chegar ao nivarna. As bandeirinhas que vemos não são enfeite: nelas estão escritas orações e eles acreditam que o vento pode leva-las para bem longe.

 As pessoas vão lá orar todos os dias. Você pode encontrar STUPAS por toda parte do pais e tambem nos caminhos que levam as montanhas. A atmosfera aqui e magica e mística, mas eu

cheguei aqui para ver a MONTANHAS DO HIMALAIA e tentar fazer algumas caminhadas pela região.

 Tentei pedalar por uns dias, mas no transito aqui vale a lei do maior. Como a bike era a menor das coisas, eu tinha que pular fora da estrada a toda hora. Eu estava indo para o Tibet, mas no caminho descobri que seria dificil arrumar um visto. Estundando melhor o GUIA LONELY PLANET vi que cada trek aqui consome quase um mes de caminhada. Resolvi então voltar para KATHMANDU e agilizar permits, equipamentos e transporte para ir conhecer a montanha sagrada dos Nepaleses, SAGARMATHA ou MT EVEREST, a montanha mais alta do mundo.

 Dia corrido, mil coisas para fazer, fui ate o KEEP, (ou KATHAMANDU ENVIRONMENTAL EDUCATION PROJECT) para colher algumas informações sobre as trilhas. Descobri que caminhar sozinho pela região não e muito seguro. Ocorreram varios casos de assalto e assassinatos no trecho onde comeca a trilha para o BASE CAMP EVEREST. Recomendaram achar um companheiro. O nepal e muito pobre e é por isto que as pessoas aqui parecem levar uma vida de 200 anos atraz. O turista, as vezes alvo de assaltos, é uma solução para sua vida dura.

Tive que correr. Tinha pouco tempo para isto, mas tive sorte e achei PIERRE, um frances que já morou nos ESTADOS UNIDOS, BARCELONA, CHILE e agora mora na CHINA. Mas ele não iria caminhar todo o caminho. Tinha uma passagem para voar ate LUKLA, isto era a 10 dias de caminhada de JIRI onde comeca a trilha.

 Tive que pensar rápido e resolvi voar também. No aeroporto conheci TY, um indiano que se mudou para os ESTADOS UNIDOS a muito tempo e agora estuda em LONDRES. Ty tem alguma experiencias em climb: já escalou o El Captain e algumas outras montanhas na região das ROCHOSAS. Ele ia para o mesmo lugar que a gente então resolvemos ir juntos.

 Estava com muitas nuvens e o vôo atrasou um pouco. Mas depois de uma hora de espera finalmente levantamos voo rumo as montanhas. Depois de 40 minutos sem ver muita coisa pela janelinha do avião que tambem não era muito grande (tinha capacidade para umas 14 pessoas mas so tinha nós e um monte de carga amontuada pelo meio das cadeiras).

Então o avião comecou um mergulho absurdo e eu não consegui ver a pista. Só morros. Quando percebi um dos morros era a pista. O avião aterrisou subindo o morro e no final eu pude ver um muro de pedra. O piloto usou todo o freio que disponha e eu não acreditei no que acontecia. Aterrizamos numa pista vertical.

 O dia tinha acabado de comecar, tinha muito caminho pela frente. LUKLA está a 2800m de altitude e a idéia era chegar em Nanche Banzar (3440m alt.) neste mesmo dia. Eram umas 8 horas de caminhada morro acima. No caminho vimos um grande movimento de sherpas carregando mercadorias para o mercado de sábado em NAMCHE BANZAR.

 Ví coisas inacreditáveis, sherpas carregando 60kg ou mais e mulheres fazendo o mesmo. A vida é dura aqui nas montanhas. Todo o material e suprimentos é carregado morro acima via YAKS ou via SHERPAS. Não tem carro e nem caminhão porque não tem estrada, só pequenas trilhas que ligam às vilas espalhadas pelas montanhas, cada uma mais alta que a outra.

 No caminho atravesamos vilas incrivelmente situadas em cada pirambeira e cada ponte pencil mais alta que a outra. Depois de 8 horas chegamos a.....

 NAMCHE BANZAR.

O tempo estava encoberto, setembro e o final das monsões. Na parte da manhã sempre amanhece azul mas quando vai chegando lá pelas 11 horas, o tempo muda e fica tudo nublado. A cidade está situada na borda de um precipício de 400 metros de altura e foi construída em terraços em cim do morro. É a capital das terras altas. Daqui partem expidicões para escalar o EVEREST.

 É muito facil encontrar com os integrantes das expedições. Conheci alguns Eslovenos que estavam pretendendo escalar a maior montanha do mundo e depois descer esquiando. Loucura, também acho, mas ví uma foto de um cara fazendo isto. Tinha também a expedição ESPANHOLA que iria fazer um documentário, a CANADA-FRANÇA e a KOREANA.

Todos estavam lá para tentar subir na montanha sagrada. Esperavam pelo bom tempo e, enquanto isto, faziam aclimatação para enfrentar os 8800m de altitude do EVEREST. Nós também tínhamos que fazer aclimatação. Iríamos subir até 5300m de altitude para dalí subir no KALA PATAR, a 5600m para poder ver a tal montanha.

 Dia de folga para os pés. Fomos até o mercado para ver um monte de gente de diferentes etnias comprando e vendendo seus produtos. Conhecemos 2 canadenses que estavam voltando dos vales que pretendiamos ir. Deram algumas dicas e depois de algumas cervejas (para eles as primeiras depois de muitos dias. Para nós, as últimas). Contaram que estavam fazendo um documentario para itv.net, uma tv dentro da internet. Eu não ví, mas o endereço é este . Tem também este email.

 Um deles esquiou um glacial morro abaixo...cada maluco que encontro por aqui. Depois de um dia de aclimatação rumamos para THYANBOCHE.

 THYANBOCHE 3800m alt.

 O dia também estava nublado. Mal podíamos ver o vale onde estavamos. Subimos um big morro que quase nos matou devido a altitude que já comecamos a sentir.  

Em THYANBOCHE fui visitar um MOSTEIRO BUDISTA, e participei de um cerimonia muito diferente do que estou acostumado a ver mas que, em alguns momentos, me fez lembrar as cerimonias católicas.

 AMANHECEU UM DIA COM MUITO SOL

Quando chegamos não dava para ver um palmo na frente do nariz mas quando acordamos e vimos onde estávamos, não deu para acreditar... Montanhas por todos os lados e o AMA DABLAM na minha frente, com seus 6800m. Lindas montanhas, dia azul, mas uma boa subida nos esperava. Tinhamos que chegar a Digboche a 4300mt e fazer uma nova aclimatação. No caminho conhecemos dois franceses e uma canadense com o mesmo destino: subir subir até quase o céu...

 Pierre se sentiu mal devido a altitude e teve que descer. Ficamos então eu e TY para continuar a trip. Como a vida agora era caminhar então ‘bora morro a cima. No caminho fui pensando na vida. Estar aqui era um sonho antigo ue um dia resolvi por no papel e tornar realidade. Também pensei em quanta gente tem sonhos que acham impossiveis de realizar e que passam a vida toda pensando como seria bom... Eu digo: é muito bom mesmo, mas tem que parar de sonhar e agir.

 Eu descobri que o querer tem um poder mágico e que voce deve escutar seu coração, algo que faz muito bem para seu Ser e Espírito. Se voce parar para pensar, sua vida é muito mais que voce pode imaginar, mas a vida criada pelo homem, nos somos parte do universo, somos parte deste planeta, somos parte da natureza e temos muita coisa dentro de nós que não conhecemos direito. Mas do pouco que sei , posso dizer que tem uma vozinha dentro de nós que sabe o que é bom e o que nos faz bem. E se pararmos para ouví-la, vamos saber o que realmente e importante para nossas vidas.

 Encontrei várias pessoas interessantes vivendo seus sonhos. Kenny o canadense que encontrei a 3 anos atrás remendando o pneu de sua bike numa estrada da Argentina, está ha 15 anos viajando pelo mundo. Quando comecou achou que era algo difícil de realizar. Encontrei com uma mulher de 60 anos,que ha 5 viaja por várias partes do mundo mas já faz 3 anos que esta pedalando pelos caminhos da terra. As vezes nem a idade e obstáculo.

 VOLTANDO AO HIMALAIA.......

Quando dei por mim estava chegando a GORAKSEP.

 11 DE SETEMBRO GORAKSEP (5300m)

Eu estava caminhando a 6 dias e finalmente cheguei a lugar que daria para ver o EVEREST. Como cheguei cedo, resolvi dar uma caminhada até o camping base. No caminho pude ver várias STUPAS em homenagem as expedições e alpinistas que ali morreram tentando escalar o EVEREST. Bons alpinistas perderam a vida ali. Você tem que respeitar e tomar muito cuidado no "mundo das montanhas". Só quem já esteve aqui pode entender a magia e poder do lugar.

 O trekking para o BASE CAMP EVEREST é um dos mais famosos do mundo. Muita gente vem aqui para conhecer o HIMALAIA, sua gente, suas vilas... mas tem que se tomar cuidado com aclimatação devido a altitude, avalanches, mudancas de tempo, frio intenso. Tem-se que estar previnido porque se te acontece algo, voce esta a dias de caminhada do mais próximo hospital. No caminho de volta pude ver um projeto em andamento para socorrer as pessoas que precisam de um atendimento urgente. Mesmo assim voce tem que respeitar as montanhas senão pode ficar para sempre nelas.

 EU VI O EVEREST... :-)

 Acordamos bem cedo para poder pegar bom tempo em cima do KALA PATAR , um morro com 5600m de onde você pode ter uma boa visão das montanhas mais altas do mundo. Tinha nevado a noite e isto fez a paisagem ficar mais bonita ainda. Todos ficamos horas vendo a paisagem ao redor. Acho que era um velho sonho de todos que estavam comigo naquele lugar: estar no HIMALAIA, VER DE PERTO AQUELA PAISAGEM E SE SENTIR PARTE DELA.

 

A VIDA NAS MONTANHAS.

As casas são construídas com o único material que existe alí: PEDRA. Nas altitudes não existem árvores. As paredes e telhados são de pedra. Uma única e pequena porta e uma minuscula janela são o modelo basico da arquitetura local.

 No chão uma especie de turfa que serve como isolante térmico e é usada tambem no telhado. Tambem pude ver alta tecnologia para atender o turismo. Nestas casas, que não tem água encanada, utilizam toilets organicos e energia solar.

 O YAK

Um animal herbívoro, como um boi de pelo longo, é o mais importante fator para a vida destas pessoas. Ele é o transporte, a comida, produz leite de onde fazem queijo e utilizam sua bosta depois de seca ao sol como combustível. Também para calafetar os vãos entre as pedras. Sem o YAK, as expedições teriam grandes dificuldades para transportar seus equipamentos mais pesados. Mesmo com YAKS, o tempo mínimo para se fazer chegar as provisões ao Camp Base é de uma semana. Todos os Yaks tem um sino para seus criadores poderem achá-los em dia de nevoeiro.

 A VIDA SHERPA

São os habitantes do Himalaia. São basicamentes criadores de Yaks e agricultores. Levam uma vida muito simples, sem confortos do mundo moderno. Suas casas são abrigos, sua cozinha é um lugar dentro destas escuras construções de pedra onde fazem um fogueira e que tem uma abertura no teto. Enfrentam épocas de muito frio, as vezes tem que ficar 20 dias dentro de casa porque tem neve até o nariz la fora.

 

Tem também que armazenar alimentos para o YAKS, porque no inverno tudo fica debaixo da neve. As vezes muitos de seus animais morrem. Tem que provisionar alimentos para o inverno, porque o comércio mais próximo fica a muitos dias de caminhada. Fiquei na casa de um SHERPA que parecia o Bruce Willis das montanhas. Contou histórias do tempo que era guia de expedição. Esteve por 7 vezes na última base do Everest. Quis escalar mas nunca deixaram.

 Fiquei em sua casa depois que atravessei o passo CHO LA PAS. Tinha neve até o joelho. Foi um dia difícil. A neve fresca encombriu as crevasques (rachadura no glacial que pode chegar a 15m ou bem mais). Tinha uma avalanche bem fresca no meio do caminho, mas TY que tinha alguma experiencia achou um caminho para atravessar.

 HOJE É 23 DE SETEMBRO. Voltei a KATHMANDU de onde estou digitando este texto. Daqui uns dias vou para outro trek. Quero agradecer a todos que me mandam mensagens e quero responder em breve. Aguardem mais histórias sobre os CAMINHOS DO HIMALAIA.

 


SE VOCE PRETENDE FAZER ALGUMAS CAMINHADAS CONSULTE ANTES OS GUIAS: LONELY PLANET/TREKKING IN NEPAL

Veja tambem:

 JAMIE MC GUINNESS - TREKKING IN EVEREST  e-mail: treks@clear.net.nz

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