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INSTITUTO DE PERMACULTURA
DA MATA ATLÂNTICA

 

PRODUÇÃO CONJUNTA DE MILHO E ENERGIA EÓLICA POR FAZENDEIROS AMERICANOS
Lester R. Brown - Worldwatch Institute

Agricultores e pecuaristas nos Estados Unidos estão descobrindo que possuem não apenas a terra mas também os direito eólicos que acompanham a sua propriedade. Um fazendeiro em Iowa que arrenda um quarto de acre de milho à concessionária local para instalação de uma turbina eólica, pode ganhar US$ 2.000 por ano em "royalties" pela eletricidade gerada. Num ano bom, essa mesma área pode produzir US$ 100 de milho. O controle do vento tem se tornado cada vez mais lucrativo. A American Wind Energy Association [Associação Americana de Energia Eólica] informa que o custo por quilowatt/hora da eletricidade eólica caiu de 38 centavos de dólar, no início da década de 80, para 3 a 6 centavos hoje, a depender principalmente da velocidade do vento no local. Já competitivo, o custo da eletricidade eólica deverá continuar a cair. Esses custos declinantes, facilitados pelos avanços no desenho de turbinas eólicas, ajudam a explicar a expansão rápida da energia eólica além dos seus domínios originais, na Califórnia. À medida que as fazendas eólicas entram em atividade nos estados agrícolas e pecuários de Minnesota, Iowa, Texas e Wyoming, a geração da energia eólica subiu vertiginosamente, elevando a capacidade de geração dos Estados Unidos de 1.928 megawatts em 1998, para 2.490 megawatts em 1999 - um acréscimo de 29%.

Contrariamente ao que se pensa, o potencial da energia eólica é gigantesco. Um inventário realizado pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos constatou que três estados - Dakota do Norte, Kansas e Texas - possuem energia eólica controlável suficiente para atender às necessidades energéticas de toda a nação.

Numa época quando os agricultores lutam pela sobrevivência, com os preços dos grãos nos níveis mais baixos em duas décadas, alguns encontram salvação nessa nova "lavoura." É como encontrar petróleo, com a diferença que o vento nunca se exaure.

Para um pecuarista em Great Plains, um acre de pasto pode gerar US$ 25 de carne por ano, um valor que é minimizado pelo potencial de renda eólica da mesma área de terra. O mesmo ocorre com os produtores de trigo que colhem US$ 120 de grão por acre. Para pecuaristas com áreas nobres de vento, a receita eólica pode facilmente ultrapassar àquela da pecuária.

Um dos atrativos da energia eólica é que as turbinas alinhadas através de uma fazenda não interferem com o uso do solo para a agricultura ou pecuária. Os fazendeiros podem, literalmente, "tirar vantagem em tudo."

Outro atrativo é que a maior parte da receita gerada permanece na comunidade local, enquanto que, na energia oriunda de uma termelétrica a petróleo, o dinheiro gasto com eletricidade pode acabar no Oriente Médio. Uma única turbina eólica de porte pode gerar US$ 100.000 de eletricidade ao ano. E não são apenas as fazendas eólicas que geram renda, empregos e receita fiscal. A primeira fábrica de turbinas eólicas em nível de serviços públicos a ser implantada fora da Califórnia, iniciou suas operações recentemente em Champaign, Illinois, no coração do Cinturão do Milho.

O valor das terras agrícolas poderá refletir em breve essa nova fonte de renda. O meteorologista eólico que identificar os melhores locais para as turbinas estará desempenhando um papel na emergente economia eólica comparável à do geólogo de petróleo na velha economia energética. A simples presença de um meteorologista eólico instalando instrumentos de medição de vento numa comunidade poderá elevar os preços das terras. O atendimento da demanda energética local pelo vento não é o fim da estória. A eletricidade barata gerada pelo vento pode ser utilizada para eletrolisar a água, produzindo hidrogênio, hoje largamente considerado o combustível do futuro. Com os automóveis movidos a motores de células de combustível sendo esperados no mercado nos próximos anos, e com o hidrogênio como o combustível selecionado para esses novos motores, um imenso mercado novo está se abrindo. A Royal Dutch Shell, líder nesta área, já abriu postos de hidrogênio na Europa. William Ford, Diretor Presidente da Ford Motor Company, declarou que espera presidir o funeral do motor de combustão interna.

As fazendas poderão, um dia, suprir o hidrogênio que moverá a frota de veículos do país, fornecendo aos Estados Unidos a fonte energética necessária para sua declaração de independência ao petróleo do Oriente Médio.

Preocupados com a queima de combustíveis que desestabilizam o clima, os governos em todos os níveis estão incentivando o desenvolvimento de fontes benéficas de energia renovável. Em alguns estados, as comissões dos serviços públicos exigem das concessionárias que ofereçam a seus clientes opções de "energia verde." Embora isto possa significar um aumento na conta mensal de energia, muitos consumidores preocupados com a mudança climática estão adotando a energia verde. No Colorado, a oferta de escolha de energia eólica tanto às residências quanto ao comércio já motivou a implantação de 20 megawatts de capacidade de geração eólica - uma quantidade que deverá duplicar em breve.

Muitos governos estaduais estão tomando a iniciativa. Minnesota está exigindo que sua maior concessionária instale 425 megawatts de capacidade eólica até 2002. No Texas, leis obrigam que 2.000 megawatts de capacidade geradora provenha de fontes renováveis até 2009, devendo a maior parte ser gerada pelos ventos abundantes desse estado.

O Secretário de Energia dos Estados Unidos, Bill Richardson, está exigindo que 7,5 porcento das compras de eletricidade do seu Departamento seja de fontes renováveis (excluindo a hidro) até 2010. E a cidade de Santa Monica, na Califórnia, mudou todas as suas instalações municipais para a energia verde, que será provavelmente eólica. Está surgindo uma tremenda aliança em apoio à energia eólica. Além dos ambientalistas os agricultores, pecuaristas e consumidores a favor da energia verde estão hoje apoiando o desenvolvimento da riqueza eólica do país, como também os líderes políticos nos estados agrícolas e pecuários do Meio-Oeste e Great Plains, muitos dos quais ajudaram a promover leis em Washington prorrogando o Crédito do Imposto de Produção [PTC - Production Tax Credit] sobre a energia eólica. O interesse político no vento está sendo incentivado por um fluxo constante de notícias sobre os possíveis efeitos do aquecimento global, tais como ondas de calor e secas recordes, maiores enchentes destruidoras, degelo polar e das neves de montanhas, como também elevação do nível do mar.

O rápido crescimento da energia eólica não está limitado aos Estados Unidos. Em todo o mundo, a geração da eletricidade eólica em 1999 aumentou num nível surpreendente de 39 porcento. O vento já fornece 10 porcento da eletricidade da Dinamarca. No estado mais ao norte da Alemanha, Schleswig-Holstein, gera 14 porcento de toda a eletricidade. A província de Navarra, no norte da Espanha, obtém 23 porcento de sua eletricidade do vento, contra zero há apenas quatro anos. Na China, que recentemente deu início às atividades da sua primeira fazenda eólica, no interior da Mongólia, os analistas calculam que o potencial eólico do país é suficiente para duplicar a geração nacional de eletricidade.

O mundo está começando a reconhecer o vento pelo que é - uma fonte inesgotável de energia que pode suprir tanto eletricidade como combustível. Nos Estados Unidos, os agricultores estão aprendendo que duas lavouras são melhor do que uma, o governo está percebendo que o controle do vento pode contribuir tanto para a segurança energética quanto para a estabilidade climática. Esta é uma combinação vencedora - uma que ajudará a transformar a energia eólica numa pedra angular da nova economia energética.

Publicações do Worldwatch em português no site: http://www.worldwatch.org.br/


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