Fundamentos da navegação astronômica. Continuação.

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Como a Posição Geográfica do astro normalmente está a milhares de milhas de nossa posição, o círculo de altura é extremamente grande e o pequeno pedaço deste círculo que nos interessa - aquele nas proximidades de nossa posição estimada - pode ser considerado uma reta perpendicular ao Azimute do astro. Esta reta é chamada de Reta de Altura (fig. 9).


fig. 9 - reta de altura

Conseguimos, a partir da medida da altura de um astro em um instante e de nossa posição estimada, traçar na Carta Náutica uma reta de altura. Sabemos que nossa posição real está em algum ponto ao longo desta reta. Para determinar este ponto deveremos traçar uma segunda reta obtida de forma análoga para um outro astro. O cruzamento das duas será nossa posição real ou Posição Astronômica.

Normalmente repetiremos o procedimento para um terceiro astro, obtendo outra reta de altura, para nos certificarmos dos resultados. Dada a imprecisão inerente às medidas com o sextante, é provável que as três retas de altura não se cruzem em um mesmo ponto, formando um pequeno triângulo. Nossa Posição Astronômica provavelmente estará em algum ponto deste triângulo (fig. 10). Quanto menor o triângulo, melhor. Normalmente assumiremos que nossa posição astronômica está no centro do triângulo.


fig. 10 - Triângulo formado pela intersecção de 3 retas de altura

Na figura 10 podemos ver como os círculos de altura de 3 astros determinam as 3 retas de altura r1, r2 e r3.

Na navegação astronômica tradicional, a determinação da reta de altura a partir da altura de um astro envolve a determinação da PG do astro (AHG e Declinação) usando o Almanaque Náutico e a solução por tabelas do triângulo de posição PXZ; formado pelo Polo terrestre (P), a PG do astro (X) e a posição estimada do navegador (Z) (figura 11). Estes dados fornecem a altura calculada e o Azimute do astro. A diferença, em minutos de grau, entre a altura calculada e a altura do astro medida no sextante é a distância em milhas náuticas entre a reta de altura e a posição estimada - o erro Delta da posição estimada.


fig. 11 - Triângulo de posição PXZ

Usando Navegador light, a PG do astro e o triângulo de posição são resolvidos por fórmulas pelo computador. Tudo que você tem que informar é a leitura do sextante (data, hora e altura), nome do astro e a posição estimada.

Determinação gráfica da Posição Astronômica

Embora não seja necessário traçar as retas de altura na Carta Náutica quando navegando com Navegador light, é interessante saber como isto é feito. Uma reta de altura é traçada na Carta Náutica (projeção de Mercator), da seguinte forma:

1) Plote a posição estimada.

2) Com o auxílio da régua paralela, trace uma reta passando pela posição estimada na direção do Azimute do astro.

3) Com um compasso marque sobre esta reta o erro Delta da posição estimada - na direção do Azimute astro ou na direção contrária, conforme o sentido do Delta calculado.

4) Trace então por este ponto a reta de altura, perpendicular à reta do Azimute.

Cartas náuticas detalhadas são disponíveis apenas para locais próximos à costa. Assim, quando em alto mar, normalmente não temos uma carta com a escala adequada para plotar as retas de altura e determinar a posição astronômica. Na navegação tradicional, este problema é resolvido usando folhas de plotagem - a Folha DHN 0620 N-7, publicada pela Marinha Brasileira, por exemplo - ou papel quadriculado.

A plotagem em papel quadriculado envolve alguns cálculos extras. Um minuto de longitude corresponde a uma milha apenas nas proximidades do Equador. Como os meridianos convergem na direção dos polos, o minuto de longitude vai se tornando cada vez menor a medida que nos afastamos do Equador. Assim, se usarmos 1 quadradinho = 1 milha como escala e plotarmos as retas de altura, determinando a posição astronômica, teremos que converter a distância horizontal da posição estimada até a astronômica de milhas para minutos de longitude usando a seguinte relação:

número de minutos de longitude = número de milhas na horizontal / Cos ( Latitude )

O uso das folhas de plotagem é mais simples, pois elas tem uma escala gráfica para conversão de milhas em minutos de longitude.

Na navegação usando Navegador light, o programa determina todos os cruzamentos das retas de altura e a calcula a posição astronômica algebricamente, não havendo necessidade de plotar as retas. Um mapa simplificado é desenhado na tela do computador, mostrando os paralelos, meridianos, retas de altura e a posição astronômica .

O sextante

O sextante é um instrumento para medição de ângulos. A figura 12 mostra esquematicamente um sextante. A Luneta está apontada para o espelho pequeno, que é fixo no quadro do aparelho. Este espelho tem uma metade espelhada e a outra transparente. Pela parte transparente, o navegador pode avistar o horizonte diretamente. A parte espelhada reflete a imagem que vem do espelho grande. O espelho grande é móvel e gira juntamente com o braço do sextante. Fazendo isso, variamos o ângulo entre os espelhos pequeno e grande. O astro é avistado através da reflexão no espelho grande. A Altura do astro é medida na Escala. Normalmente existe um tambor micrométrico para ajuste fino do ângulo. A leitura é feita tomando-se os graus inteiros na escala e os minutos no tambor micrométrico. Como sabemos, cada minuto da altura corresponde a uma milha e cada grau a 60 milhas.


fig. 12 - Sextante

O Sextante conta também com dois jogos de filtros coloridos para suprimir o excesso de luz, principalmente no caso do Sol. O uso de dois ou mais filtros na frente do espelho grande quando observando o Sol é imprescindível para proteção do olho. Graves lesões oculares podem resultar da observação desprotegida do Sol.

Olhando pela luneta e ajustando o ângulo do sextante para a altura de um astro, temos a seguinte imagem :


fig. 13 - Imagem do astro no sextante

As leituras com o sextante devem sempre ser tomadas com o aparelho na vertical. Inclinando levemente o aparelho já ajustado veremos que a imagem do astro descreve um pequeno arco que toca o horizonte em um ponto próximo ao centro do espelho. Nesta situação, o ângulo está ajustado e podemos fazer a leitura da altura do astro na escala.

Antes de usar o valor medido da altura (ou altura instrumental) em cálculos, devem ser feitas algumas correções. Essas correções são altura do olho, semi diâmetro do astro, erro instrumental, refração e paralaxe. Como a maioria destas correções dependem apenas do astro selecionado e da altura, elas são feitas automaticamente por Navegador light. As únicas informações que você deverá fornecer ao programa são relativas à altura do olho e ao erro instrumental. A aplicação das correções na altura instrumental fornece a altura corrigida.

Um observador posicionado em um lugar alto observará um astro com uma altura maior do que outro ao nível do mar. A altura do olho (ou Dip) corresponde a este erro decorrente da altura do observador. Em pequenos veleiros esta altura não ultrapassa 2 metros e o erro na leitura do sextante é pequeno. Contudo, se o navegador se encontrar na ponte de comando de um grande navio, o erro pode ser considerável. A figura 14 mostra este desvio exageradamente para ilustrar. Tipicamente ele é de poucos minutos de grau.


fig. 14 - Erro de leitura do sextante devido à altura do olho (Dip).

O erro instrumental (EI) é devido a uma pequena diferença de paralelismo entre os dois espelhos do sextante quando ajustado para um ângulo de 0°00'. Embora este erro possa ser corrigido através da aferição do sextante, é mais prático descontá-lo da altura instrumental do astro. Para ler o erro instrumental do sextante, ajuste o ângulo na escala para 0°00.0' e aponte para o horizonte. Na figura 15 da esquerda, vemos a imagem de um erro instrumental. Gire o parafuso micrométrico até que as duas imagens do horizonte formem uma única linha (fig.15 à direita). Leia então o erro instrumental no tambor micrométrico.


fig. 15 - Erro instrumental do sextante na luneta

O Erro Instrumental pode ser para dentro da escala do aparelho (ângulo positivo) ou para fora (ângulo negativo) conforme ilustrado na figura 16.


fig. 16 - Sinal do Erro Instrumental

Aferição do sextante

A forma de regulagem do sextante varia de modelo para modelo. De modo geral ela é feita através dos parafusos de suporte dos espelhos. Para verificar a aferição do aparelho, ajuste o ângulo na escala para 0°00.0' e aponte-o para uma estrela (ou outro objeto distante). Se o sextante estiver aferido, a imagem direta do astro deverá superpor a refletida. Esta condição deverá permanecer mesmo inclinando o sextante de lado.

Os desvios podem ser na vertical ou na horizontal. Um pequeno desvio vertical é tolerável e pode ser descontado através da introdução do erro instrumental em Navegador light. Um desvio horizontal significativo deve ser corrigido através da aferição do aparelho. Consulte o manual do sextante sobre o procedimento de aferição.

Capítulo 2 |Índice do manual

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