Este
texto foi cedido gentilmente por Marcelo Bueno, e faz parte do site
pelo mundo de bike.
, que descreve sua viagem de bicicleta pela Nova Zelandia, Austrália,
Indonésia e Nepal.
Austrália
Depois de ter ficado alguns dias em SYDNEY na casa de Sasha,
resolvi olhar o mapa meu mapa da Austrália e ver o que eu poderia
fazer para chegar em Carns de bicicleta com tempo que me resta
de visto. Resolvi dar um pulo até BYRON BAY de ônibus e dela seguir
viagem novamente mas quando cheguei lá acabei ficando, ficando,
ficando...
BYRON BAY
Cidade na beira do mar com
uma população de 6 mil habitantes, a maioria jovens de várias
partes do mundo. No inverno as baleias vão para lá fugindo do
frio do sul.Quase todos os dias pode se ver golfinhos surfando
nas belas ondas transparentes que rolam nestas praias.
Byron é considerada a meca
dos surfistas. Tem boas ondas o ano inteiro e tem também muita
gente preocupada com a saúde do planeta, com a natureza, com a
qualidade de vida. Vivem em comunidades, fazendas orgânicas. Muita
gente trabalha com regeneração das matas nativas, introduzindo
permacultura nas fazendas e optando por construir casas com material
reciclado.
Morando em tipi ( barraca
do índio americano), utilizam energias alternativas (solar, do
vento) em suas casas. Utilizam água da chuva para uso doméstico.
Constróem casas simples: pequenas que não agridem a natureza ao
redor. O lixo é seletivo e todo mundo recicla o seu. O lixo orgânico
vira composto para as hortas e jardins.
A rede de lanchonetes da
McDonalds tentou abrir uma filial na cidade, mas a prefeitura
negou o alvará, alegando que não tinha estrutura para limpar a
poluição produzida por todas as suas embalagens descartáveis.
Existem algumas comunidades
que resolveram viver mais perto da natureza. Tentam se adaptar
a ela sem tantos confortos. Plantam seu próprio alimento. Optaram
por uma vida mais simples e com maior qualidade de vida.
Byron é o lugar certo para
se aprender a fazer yoga, meditação, tocar instrumentos, surfar,
pensar na vida e viver. As pessoas tem um astral alto. É o lugar
onde a contra-cultura dos anos 70 está bem viva. As pessoas experimentam
uma liberdade de viver que não vi em lugar nenhum.
Cheguei aqui e logo tive
uma bela supresa: encontrei meus amigos Lele, Charles e mais alguns
brasileiros gente boa: Nilton, Rita, Nadia e Grão.
Lele e Charles conseguiram
um trailler para ficar. Neste trailer acontece a reunião dos brazucas.
Todas as noites rola muito papo furado entre partidas de buraco.
Eles trabalhavam no backpacker em troca de estadia. Quase todos
os serviços neste backpacker funcionam neste esquema.
Outro dia fui visitar o Mt
Warnig, a montanha mais alta da região, com uma belíssima mata
.
A maioria das montanhas aqui
são solo sagrado dos aborígines. Dizem que do Mt Warnig você pode
captar a energia do fundo da terra. Esta montanha era no passado
o centro de um vulcão, agora extinto.
Charles o iluminado
sentou bem no topo da montanha e começou a meditar procurando captar
as energias do lugar.
InterSites ®
NIMBIM - HEMP FESTIVAL
Nimbim também é um ponto
da contra-cultura na Austrália. A população local está organizando
um mega-festival para o fim do milênio. As pessoas estão fugindo
das grandes cidades que aos poucos vai matando o ser humano e
estão vindo morar mais perto da natureza. O australiano daqui
está resgatando a cultura aborígina e abandonando a cultura inglesa.
Estão em busca de uma vida
simples, da vida em comunidades ou em fazendas, produzindo seu
próprio alimento e tentando resgatar a natureza que existe dentro
de nós. Vivem o dia a dia, ajudando uns aos outros com serviços
voluntários, construindo uma nova sociedade mais ecológica, mais
simples, sem tantos confortos tecnológicos mas tamb;em sem seus
problemas. Uma sociedade mais justa, integrada com a natureza,
voltada ao ser humano.
A 5 anos que no mesmo dia
e mês do festival de Woodstock, a população de Nimbim faz um festival
de música e protesto contra a proibição de se plantar hemp e lutam
para se aprovar no Congresso um projeto de tornar a região numa
área modelo de uma nova sociedade mais liberal, mais independente
e com suas próprias leis.
O FESTIVAL PROTESTO durou
4 dias. A cidade é muito pequena. Tem uma rua só e foi invadida
por pessoas de diferentes tribos, filosofias, religiões e nacionalidades.
A cidade por si só é bem interessante. Tem umas peças raras bem
legais. Conheci um que fez um carro movido a óleo de hemp, outro
luta contra a utilização de usinas atômicas.
No festival rolou muita música,
improviso nas ruas, muita fantasia, pessoas dançando. Parecia
o carnaval do Brasil, em proporções bem menores. Aconteceram concursos
engraçados, como olimp-hemp e joint festival.
Depois destes dias de festa
voltei para Byron e comecei a pensar na estrada novamente. Apesar
de estar muito boa a vida, chega uma hora que a estrada começa
a chamar . É a vida dos viajantes: pegar a estrada é nossa vida
então resolvi agitar um meio de ir conhecer o coração da Austrália.
SOBRE O HEMP
Variação da canabis que não
tem propriedades tóxicas. Tem grandes qualidades para a fabricação
de fibras, tecidos, óleo e papel. Pode ser cultivado sem a ajuda
de pesticidas, além de ser considerado um processador de fotossíntese
mais eficiente do que a maioria das plantas.
Na Austrália já se tem 30
anos de experiência em utilização do hemp para fabricação de tecidos
e fibras.
Endereços........
http://www.nimbim.net
http://www.echo.net.au
http://www.byron.com.au
email : perminst@peg.apc.org
PLANETA TERRA PEDE
SOCORRO: SOCORRO, SOCORRA.
Tenho estado em Byron Bay
mais tempo que o esperado. Já estou a mais de 20 dias aqui e sei
que isto vai atrapalhar minha viagem de bike. Mas em Byron pude
participar e viver um movimento crescente aqui: o movimento pela
vida e pela natureza.
Estou na casa de GULLIVERS
TRAVEL e NADIA LIPUTIANA. Nadia é jornalista. Mora a dois anos
na Austrália. É brasileira e casada com Gully, que é australiano.
Trabalha e estuda como plantar e regenerar matas nativas. Convidou-me
a ajudar neste projeto. Assim pude ver e saber um pouco mais o
que esta acontecendo por estas bandas.
Na austrália aconteceu o
mesmo que aconteceu no Brasil na época do descobrimento: os europeus
chegaram matando os índios, cortando florestas inteiras, extinguindo
animais e tirando as riquezas do solo de maneira predatória, extraindo
tudo que poderia dar um ganho imediato.
A maiorias das florestas
foi destruída e hoje existem várias pessoas tentando reverter
este quadro. A prefeitura de Sydney fez uma campanha para se cultivar
plantas nativas e hoje tem vários parques e bosques lindos dentro
da cidade, com arvores da região.
Eu pude observar que tem
muita gente tentando preservar. Estão plantando florestas em suas
propriedades utilizando uma técnica desenvolvida pelo próprio
governo de estado de New South Wales.
O grande problema aqui são
as plantas importadas introduzidas anos atrás. Estas plantas se
adaptaram bem demais e hoje estão tomando o espaço das plantas
nativas e ameaçando o pouco de floresta que ainda resta. O australiano
tem uma trabalho sem fim para controlar estas espécies estrangeiras.
Parece que o australiano
despertou para sua realidade (coisa que ainda não aconteceu no
Brasil). Suas florestas representam apenas 5% de seu território
(como a Mata Atlântica). O resto é deserto e talvez por isto eles
dão valor para suas riquezas naturais. Sabem que se perderem o
pouco que resta nunca mais vão ter de volta. No Brasil nos temos
5% da nossa MATA ATLÂNTICA original e a especulação imobiliária
tem ajudado a diminuir ainda mais estas florestas.
Em toda a Austrália existem
2000 comunidades alternativas e só aqui na região de Byron existem
400 delas. Fui visitar uma que foi criada a pouco. Sua filosofia
é ensinar as pessoas a viverem novamente na natureza. O homem
moderno vive dentro de suas cidades e se afastou das florestas.
Acabou perdendo sua conexão com a natureza.
A RAINBOW TRIBE é uma comunidade
possue uma terra de 100 acres, onde querem ensinar as pessoas
a utilizarem a natureza com equilíbrio. Estão vivendo como índios
nesta primeira fase. A comunidade utiliza como moradia a TIPI
, barraca tipo indígena.
Por que a TIPI?
Porque é simples, fácil de
montar, utiliza pouca matéria prima e não agride o meio ambiente.
Para os índios, a tipi simboliza a terra porque é redonda. Ao
centro fazem o fogo para cozinharem.
Os aparelhos eletrônicos
e outros utensílios são de uso coletivo. Não estão querendo voltar
para a idade da pedra, mas sim freiar o consumo desnecessário
de matéria prima. Todo equipamento tecnológico é de uso comum.
Assim as pessoas não precisam cada uma comprar um mesmo aparelho.
A idéia básica é de pouco
a pouco as pessoas se integrarem ao meio ambiente e abandonarem
a mania de acumular as coisas que alimentam o capitalismo que
destroem e poluem o planeta.
Depois que tive contato com
esta gente, comecei a pensar o que eu realmente tenho feito para
ajudar na saúde do planeta, como eu tenho ajudado a poluir e destruir.
OLHE ao redor, onde você
vive. Pense como era sua cidade a anos atras e como é agora. Veja
o que você produz de lixo diariamente. O lixo sai de sua casa
e vai poluir algum lugar não muito longe. Agora imagine o lixo
de 150 milhões de pessoas ou o lixo de 6 bilhões em um ano, imaginou?
difícil mas assombroso.
Estamos realmente destruindo
a natureza deste planeta e você esta ajudando, mas precisamos
parar isto agora ,já. O que esta em jogo é o planeta TERRA, os
animais, as plantas. E, em última análise, a nossa vida e dos
nossos filhos.
- Comece ajudar a sí mesmo:
- Tente minimizar seu impacto,
reciclando o seu lixo.
- Diminua sua quantidade
de lixo, preferindo consumir cada vez menos produtos descartáveis.
- Economize energia elétrica
e água (se diminuirmos o consumo de energia elétrica, o governo
não precisará construir hidrelétricas que agridem tanto o meio
ambiente).
- TENTE utilizar energias
alternativas, como a energia solar.
- Use produtos orgânicos,
que não utilizam química para serem produzidos.
- Plante arvores nativas
da região na sua casa e rua.
- Não compre animais silvestres.
- Informe-se sobre o que
esta acontecendo no planeta, no seu pais, cidade, rua e veja
no que você pode ajudar.
Se cada um fizer um pouco
já é uma bela ajuda. Muita coisa pode se feita a partir disto.
O planeta Terra é nosso lar
no espaço. É um lindo planeta azul que esta se tornando cinza.
bobagem? Olhe para Cubatão,
São Paulo, Rio Tietê. Lembre de nossas florestas a 100 anos atrás
e veja o que sobrou.
O homem é um louco que não
vê nada. Enquanto calcula quanto de dinheiro vai ganhar, ele está
poluindo a água que bebe, o ar que respira e envenenando na comida
que consome. Acha que está tudo bem porque está gerando emprego
e desenvolvendo o pais.
Eu estou batalhando para
reverter isto aqui em casa mesmo, utilizando a Internet para conseguir
mais adeptos para esta causa. Ajude você também. Procure se informar
sobre o assunto e consuma menos produtos industrializados. Convide
seus amigos para ajudarem também. A participação coletiva é importante.
Qualquer um pode fazer um pouco para começar uma nova sociedade
e uma nova era mais integrada ao meio ambiente e ao planeta.
O planeta Terra está correndo perigo
e isso não é ficção científica.
DE BYRON BAY A DARWIN
Eu já estava a mais de 20
dias em Byron. Meu tempo na Austrália já estava chegando ao fim.
De bike agora seria uma corrida contra o tempo. Tinha que percorrer
mais de 3000 km em um mês.
Resolvi achar uma solução para isto: comprei um
carro usado com mais 4 brasileiros por US$700 e coloquei a bike
em cima dele. Saímos numa manhã de sol. Nadia e Guly despediram-se
de nós e lá fomos, num Holder 68 fazer 9000km. Íamos em direção
ao deserto conhecer o coração da Austrália.
Na noite anterior a nossa
saida, Guly resolveu dar uma mão mágica a nosso carro: pintou
uma serpente arco -íris na lateral e aí a festa começou. Todo
mundo saiu pintando o carro todo. O tema era liberdade de expressão.
O carro começou a tornar-se mais que um simples carro: virou nosso
tapete voador, um carro que transmitia nossas idéias, arte e modo
de ser.
O roteiro era subir em direção
ao norte, com escala em FRASER ISLAND, AIRLIE BEACH, ALICE SPRING,
ULURU, KAKADU E DARWIN. Tudo coputado, seriam 9000 km de estrada.
Como o carro tinha 30 anos, ficamos esperando uma quebra a qualquer
momento.
Na estrada o carro se comportou
bem e virou nosso lar. Parávamos em qualquer lugar para dormir
ou almoçar. Tínhamos 20 litros de água para nossas necessidades
diárias. No começo só eu dormia dentro do carro, depois Nilton
e Grão aderiram a idéia. Se cabia? Cabia...
CHEGAMOS A FRASER ISLAND
Fraser island é uma das maiores
ilhas de areia do mundo. É considerada patrimônio da humanidade.
Tem uns 120 km de comprimento por 15 km de largura, com aproximadamente
200 lagos e alguns excelentes para se nadar.
Há várias trilhas para se
fazer, uma delas e até o Lago Mackenzie, uma lagoa transparente
de forte cor azul. Chegamos na ilha debaixo de chuva, mas mesmo
assim resolvemos arriscar uma caminhada até o lago Mackeenzie.
Tivemos sorte, porque a chuva parou e só voltou a noite.
A ilha é habitada por Dingos,
uma espécie de cachorro selvagem. Se acostumaram com os turistas
e sua alimentação predileta agora é o rango roubado das barracas.
Eles chegam a rasgar a barraca para ver o que tem dentro. Tem
vários avisos enumerando os cuidados que se tem que tomar com
pos Dingos. A estadia em Fraser island foi rápida devido ao tempo.
Resolvemos seguir em frente rumo a AIRLIE BEACH.
AIRLIE BEACH : inicio da Grande
Barreira de Coral.
Ponto de partida para se
conhecer a GREAT BARRIER REEF e WHITSUNDAY. Como os preços para
se mergulhar na barreira de coral estavam salgados demais, resolvemos
ir conhecer as paradisíacas WHITSUNDAY ISLANDS. Esta região é
parque nacional e se pode acampar aqui se pedir permissão ao Departamento
de Conservação. Teríamos que levar toda a nossa água, pois não
existe água doce nas ilhas.
Pagamos um barco para nos levar até lá e ficamos
acampados na Whitehaven beach, considerada por eles a praia mais
linda do mundo. A cor da areia é tão branca que chega a doer os
olhos. Dias no paraíso aqueles. Encontramos um casal que estava
num veleiro, e conheciam várias partes do mundo. Eles nos deram
boas dicas sobre a Austrália.
A ilha é cheia de aves e
animais. Um iguana nos adotou. Passava pelas nossas barracas para
nos visitar e, lógico, ver se ganhava algum alimento. Os dias
passaram rápido e o nosso barco veio nos buscar. É triste sair
do paraíso, mas tínhamos uma longa estrada pela frente rumo a
CARNS.
CARNS: um mergulho na grande barreira.
Considerada a capital do
norte de Queensland, CARNS tem uma população de 65 mil habitantes.
Várias atividades para se fazer como rafting, horse riding e bungee
jumping. Mas mergulhar na barreira de coral é sem dúvida a melhor
opção.
Ficamos em um camping a alguns
quilômetros da cidade e, para variar, chuvia novamente. Resolvemos
esperar até o tempo melhorar para fazer nosso esperado mergulho.
Enquanto isto resolvemos conhecer a cidade e suas praias. Numa
noite fomos assistir um show de um guitarrista de blues que tinha
tocado em WOODSTOCCK. Big supresa: encontrei com Paul e sua namorada
na entrada do show. Foi na casa de Paul que eu fiquei na Nova
Zelândia e não deu para acreditar ter encontrado ele por aqui.
Não é exatamente perto da Nova Zelândia.
Naquela noite bebemos 10
jarras de cerveja e tivemos que voltar andando até o camping.
Nosso carro era muito colorido e quase sempre nos paravam para
saber se estávamos bêbados. A taxa permitida de álcool é muito
baixa: tipo um copo de cerveja e se você é pego alcoolizado, está
em "deep shit" (grandes problemas).
Então o único jeito foi andar.
Eu consegui acertar o caminho, mas Nilton e Grão erraram e foram
parar fora da cidade. O sol ameaçou a sair. Fomos marcar nosso
mergulho.
GREAT BARRIER REEF
Para se chegar lá você precisa
pagar um tour. O barco te leva a 60 km da costa e se pode mergulhar
de "snorkel" (canudinho) ou cilindro. O dia não estava
lindo mas estava bom. Resolvi na última hora arriscar um mergulho
de cilindro. Eu tenho habilitação para tal, mas já faziam 8 anos
que eu tinha dado o meu último mergulho.
Chegou a hora, 1..2..3...e.
...debaixo dágua. Meus olhos não acreditavam no que viam: corais
de várias formas e de todas as cores. Os peixes com desenhos fosforescentes
e multicolores. Era um mundo colorido e mágico que nunca tinha
visto antes. Realmente não é a toa que a grande barreira é considerada
uma das 8 maravilhas naturais do planeta. É a maior barreira,
com seus 8000 km de extensão (o mesmo que todo o litoral brasileiro).
Voltamos a Carns de boca
aberta e a alma feliz da vida. Colocamos gasolina no carro, verificamos
o óleo e pé na estrada novamente, agora rumo ao interior: ALICE
SPRING, o coração da Austrália.
ALICE SPRINGS no meio do deserto.
Originalmente Alice era uma
estação de telégrafo fundada em 1870. O local foi escolhido por
haver água nas proximidades. Charles Tood deu seu nome ao rio.
Ele era o superintendente dos telégrafos e um riacho perto deste
rio foi chamado de Alice, o nome de sua esposa.
A cidade foi construída no
ano de 1888, primeiramente chamada de STUART. Demorou a se desenvolver,
porque esta situada no meio da Austrália e tem se que atravessar
mais de 2000km de deserto para se chegar lá. Como não tinha estrada,
a cidade demorou a ter contato com o resto do pais.
Em 1933 a cidade começou
a ser chamada de Alice Springs e hoje é uma cidade moderna, com
bons hoteis, restaurantes. Se tornou um ponto de acesso ao centro
da Austrália. No verão os dias são muito quentes (acima de 45
graus). No inverno não chega a ser frio, mas de noite a temperatura
pode chegar a 4 graus em certos dias.
Ao redor de Alice Springs
tem vários parques nacionais para se visitar e algumas comunidades
aborígines. O mais famoso parque da Austrália esta situado a 400
km sul de Alice: ULURU NATIONAL PARK, onde fica a pedra sagrada
dos aborígines e o coração deste pais.
O motivo de nós 5 compramos
o carro foi justamente para conhecer Alice Springs e o parque
nacional ULURU. De Carns para Alice são mais de 2000 km em direção
ao interior. A paisagem é sempre a mesma: a estrada é um retão
sem fim cheia de TRAIN ROADs, caminhões gigantes com mais de 50
metros de comprimento, tipo Mad Max que e possuem um para choque
que pode destruir qualquer coisa no caminho, inclusive nosso carro.
É muito comum encontrarmos
cangurus e bois atropelados ao longo da estrada. Quando chegamos
em ALICE depois de 5000 km rodados, fizemos a maior festa. Tínhamos
conseguido comprir uma etapa de nossa viagem. Acampamos perto
da cidade em um parque. Fizemos algumas excursões, mas decidimos
chegar logo ao nosso objetivo: ULURU, O CORAÇÃO DA AUSTRALIA.
ULURU NATINAL PARK
ULURU, situada no meio do deserto, tem várias coisas
curiosas. Uma delas é que ela muda de cor do nascer ao por do
sol. Sua cor normal é vermelha, mas pode ficar cinza quando o
céu esta carregado de nuvens. Ela esta situada no meio da Austrália
e por isso todos a chamam de o CORAÇÃO DO PAIS.
A paisagem é impressionante
porque não tem montanhas ao redor. Tudo é plano e você olha esta
pedra vermelha de 400 de altura. É algo que se destaca e faz você
pensar o que esta pedra estará fazendo aí, no meio do deserto.
Outro fato é que ela é a pedra sagrada dos aborígines. Fizeram
dela seu livro de história, seu altar, sua casa e sua cultura.
Cada fenda ou buraco tem
uma história transmitida oralmente a mais de 40 mil anos.
Sua história esta dividida
no tempo atual e no tempos do sonhos. O tempo dos sonhos são histórias
ocorridas a mais de 20 mil anos atras.
Mas hoje este povo tão rico
em cultura e sabedoria esta perdendo sua maior riqueza: sua história
e seus costumes. As novas gerações não querem mais saber de perpetuar
sua cultura e estão perdendo sua identidade. Estão perdidos tentando
viver nas cidades. Se tornaram alcolatras e, vivem perambulando
pelo pais, sem rumo, esquecendo sua origem e desconectados de
seu povo e sua cultura.
Os australianos em certas
partes do pais são bem racistas e não vêem os aborígines com bons
olhos. O primeiro ministro atual, no dia da comemoração da reconciliação
entre os aborígines e o homem branco, fez um pronunciamento ofendendo
toda a comunidade aborígine. Muita coisa vai acontecer depois
disto. Tiram primeiro de suas terras e agora não querem eles nas
cidades.
Chegamos de tarde nas proximidades
de Uluru e, como não podia ser diferente, chovia no deserto durante
estação seca. Mesmo assim fizemos festa por ter chegado tão longe:
o carro chegou ao coração australiano.
Ficamos 2 dias pelas redondezas
e saímos a noite rumo a Darwin. No meio da noite acordei com os
berros de Lele. Abri os olhos e achei que estava sonhando ainda:
camelos selvagens por todos os lados. Tentamos bater umas fotos,
mas ao revelar só deu para ver a escuridão da noite.
A CAMINHO DE DARWIN
Já estávamos acostumados
a viver no carro. Já havia mais de 20 dias que dormíamos, cozinhávamos
e vivíamos dentro do iluminado, em longas distancias.
Três dormiam no banco de traz. (abaixávamos o banco que se tornava
uma boa cama) e dois acampavam. Fazíamos revezamento de 3 em 3
horas e com isto dava para dormir uma média de 9 horas e comíamos
na estrada, sem parar para dormir.
As estradas eram retas sem
fim. Poucos carros, enormes caminhões e muitos cangurus. Fazíamos
paradas para o lanche e jantar. Nossa mesa era o capo do carro.
O carro inteiro era pintado, por fora e pôr dentro. Nos primeiros
dias quando pintamos a tinta demorou a secar e todo mundo ficou
borrado de arco íris nas roupas. O carro distribuía cor por tudo
a sua volta.
Era um bom cartão de apresentação
nas cidades pôr onde passávamos. Sempre os Aborígines
vinham puxar conversa, porque
se identificavam com a enorme serpente colorida pintada ao redor
do carro. Em um destes bate-papos, conheci BEN TRUCK . Falou me
sobre seu povo, sobre o que está acontecendo com eles e como se
sentia quando ia para o sul, onde vive a maior parte das pessoas
que não simpatizam com sua raça.
E quando eu estava indo embora
me chamou num canto e pediu para eu transmitir uma mensagem para
os brasileiros. Disse que estávamos destruindo a ultima FLORESTA
TROPICAL do planeta e não estávamos fazendo nada para impedir.
Somente olhando e vendo a destruição.
Imediatamente me lembrei
de uma visita que fiz a uma casa de familia Maori na Nova Zelândia.
Estas foram as primeiras palavras que eu escutei quando cheguei
lá também. A Amazônia é o maior verde do planeta e o ultimo. Se
destruirmos, nunca mais teremos de volta. E estamos destruindo
e realmente não estamos fazendo nada a respeito.
Os dias começaram a ficar
quentes e as noticias sobre Sydney era que lá a temperatura estava
em torno de 8 graus, um frio do cão. Sorte estávamos indo para
o norte. Chegamos em KAKADU N.P de noite. Como não tinha ninguém
na portaria acabamos entrando de graça.
KAKADU NATIONAL PARK
O nome vem de Gagadju, o
nome aborígine destas terras. Kakadu se transformou em parque
nacional em três estágios: o primeiro foi a parte central incluindo
Ubu, Noulangier Rock, Jin Jin falls, Twin falls e Yellon Wate
Billabong.
Em 1979 foi declarado patrimônio
da humanidade. O governo atual tem explorado urânio dentro do
mais importante parque nacional da Austrália, apesar de muitos
protestos. Quem vai entender
estes governos interessados
apenas em dinheiro! Muita gente tem protestado este ato insano
no mais importante parque da Austrália.
O parque tem 25 espécies
de sapo, 77 espécies de peixe, 75 tipos repteis, 280 espécies
de aves,
4500 espécies de insetos,
além de 3500 crocodilos de água salgada. Nadar nos rios é puro
suicídio. Este tipo de crocodilo ataca pôr atacar e mede uns três
metros de comprimento. Sua boca é enorme.
De novembro a março é a época
seca e em outubro as chuvas começam e toda a região vira um grande
alagado. As estradas ficam intransitáveis e a temperatura sobe
para mais de 37 graus. Existe uma pequena cidade dentro de Kakadu,
JABIRU. Sua população é de 1730 habitantes e perto de lá que fica
a polêmica mina de urânio. Ficamos somente um dia neste maravilhoso
parque. Nosso carro não era um 4x4 e a maioria dos passeios eram
por estradas precárias. Mas conseguimos visitar o rio dos crocodilos
e umas rochas onde pinturas de mais de 20000 anos.
Pegamos novamente estrada
agora rumo a DARWIN.
DARWIN FIM DA ESTRADA
Nosso ultimo destino aqui
na Austrália, depois de 9000km dentro do carro. A moçada já estava
querendo um lugar para parar e o ambiente estava ficando quente
dentro do carro. Charles então
resolveu apressar nossa ida
para Darwin. O carro se comportou bem apesar dos 30 anos. Não
tivemos maiores problemas. Quando perguntávamos sobre o Holder
(a marca do nosso carro) todos diziam que mesmo quebrado ele não
parava.
Darwin entrou para o mapa
quando se tornou uma importante base dos aliados contra os japoneses
na segunda guerra mundial. Com a construção da rodovia sul e a
linha de trem até Alice Spring, Darwin finalmente teve contato
mais rápido e direto com o resto do pais. Darwin sofreu 64 ataques
dos japoneses e 243 pessoas morreram. Este foi o único local da
Austrália a sofrer ataques na segunda grande guerra.
Sua população é de aproximadamente
70 mil pessoas. É a capital do norte da Austrália, cidade
moderna com uma população
jovem e com estilo de vida "NO PROBLEM". Em 1974 um
ciclone destruiu praticamente toda cidade. Só sobraram 5% das
construções e quase nada da vegetação local.
Com a reconstrução surgiram
edificações modernas e muita gente acabou ficando por lá. Darwin
é longe de tudo. Eu brincava com meus amigos que era longe da
Austrália. Hoje a cidade é toda arborizada com belos bosques e
parques. Um oásis no norte tem mais de 50 grupos étnicos. Gente
de todas as partes do mundo vivendo na região. Todas as quintas
tem uma feira com artesanato e comidas tradicionais do mundo todo.
Encontrei até rede do Ceará sendo vendida lá.
Foi fundada em 1869. Seu
porto tinha sido descoberto anos atrás por John Lort Stokes a
bordo do BEAGLE. Quem deu o nome de Darwin foi Charles Darwin
, o cientista que fez a teoria da evolução das espécies.
Só começou a se desenvolver
quando acharam ouro na região, em Pine Creek, em 1871. Isto fica
a 200 km em direção ao sul, mas antes disto era uma região isolada,
com difícil comunicação com o resto do pais. Fiquei quase 15 dias
nesta cidade e já estava fazendo amigos e tendo uma vida local.
Faz um calor forte e durante
o ano existem duas estações: uma chuvosa com grandes tempestades
e alguns ciclones; e outra seca quando não chove uma gota durante
meses. A cidade tem uma universidade e a vida local é bem movimentada,
com teatros, shows, cinemas e
muitos bares para se beber
cerveja quanto o calor pega.
Meu dia de partir chegou.
Fiquei triste porque já tinha feito boas amizades. Vou sentir
saudades daqueles dias, de ir na feira de Quinta, da beira mar
vendo o sol se pôr, de ir ao cinema a céu aberto, céu forrado
de estrelas e dos novos e bons amigos que fiz pôr lá. No ultimo
dia percebi como minha vida mudava bruscamente com dia e hora
marcada, sabia que depois que eu entrasse no avião era nova vida,
diferentes amigos, cultura e lugares.
Isto as vezes me deixava
triste porque não tenho idéia se vou rever estas boas pessoas
novamente. Tchau Australia. Quem sabe um dia eu volte mas para
sempre vai ficar no meu coração.
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